Conforme o relatório das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a humanidade consome mais de 20% além da capacidade de reprodução da biosfera. Déficit que vem aumentando em 2,5% ao ano. “Isto nos permite comparar esta situação àquela de uma família que gasta mais do que o seu orçamento permite, ou seja, que caminha para falência”, diz o jornalista Washington Novaes. O representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), também apresentou estes dados durante o painel da Agenda 21, no V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
E é em conseqüência do sobreuso de recursos naturais, acrescenta Novaes, que temos 60 mil km² anuais de áreas em processo de desertificação. A perda de florestas tropicais, o maior repositório da biodiversidade, prossegue na razão de 150 mil km² por ano e 1,1 bilhão de pessoas já não dispõem de água de boa qualidade, enquanto 2,5 bilhões também não dispõem de saneamento.
Lembrando a primeira ministra da Dinamarca que, em 2002, chamou a atenção para o fato de que essa sobrecarga sobre o planeta se deve aos padrões insustentáveis de produção, consumo e de renda, Novaes segue apresentando mais dados: quase 80% da produção, consumo e renda estão hoje concentrados nos países industrializados que tem menos de 20% da população do mundo.
“E isso é absolutamente insustentável. Digamos que, se fosse possível, num passe de mágica, fazer um desenvolvimento miraculoso do mundo e todas as pessoas passassem a consumir com o norte-americano, o europeu ou os japoneses. Não seria possível. Não há base física para isso. Como já disseram anteriormente os biólogos, se estendêssemos os padrões de consumo do primeiro mundo a todo mundo precisaríamos de mais dois ou três planetas”. Ao mesmo tempo, reitera, a concentração de renda que está no mundo e absolutamente insustentável.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, hoje, as 3 pessoas mais ricas do mundo, juntas, elas detêm adidos superiores ao produto anual dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas. E mais, 257 pessoas que tem ativos superiores a U$ 1 bilhão de dólares, juntas, têm o equivalente a renda anual de 45% da humanidade. Ou seja, quase metade da humanidade vive abaixo da linha pobreza. Novaes acrescenta que, segundo o relatório, o mundo está caminhando para a ingovernabilidade por causa desta condição e da instabilidade gerada pelos mercados financeiros.
“A concentração de renda no Brasil é vergonhosa”, dispara o jornalista, pelo fato de termos 30% da população abaixo da linha da pobreza e 17 milhões de indigentes. “Nós estamos vivendo uma crise civiliza tória e temos que mudar. Todos os projetos públicos e privados terão que ser influenciados por esses condicionantes. Precisamos, eu insisto, mudar os nossos modos de ver, temos que colocar as questões que chamamos ambientais no centro, e no início, de todas as políticas públicas e de todos os planejamentos privados”.
Isto porque todas as ações humanas repercutem no concreto. No solo, na água, no ar, entre os seres vivos. È preciso avaliar previamente os impactos e verificar se não há alternativas, calcular os custos ditos ambientais e sociais e buscar contorná-los, inclusive decidindo quem vai arcar com eles, dizer quem os provocam e quem vai diretamente ser atingido por estes, aconselha.
“É evidente que tudo isso implica optar por uma nova estratégia para o Brasil. É preciso pensar em novos formatos de desenvolvimento, pois vários especialistas já estão mostrando que as altas taxas de crescimento nos atuais padrões de consumo são insustentáveis a médio e longo prazo”, conclui.
Maria Eugênia Brasil Jornalista – Assessora de Imprensa/Instituto Terrazul
fonte: http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article96